domingo, 25 de fevereiro de 2024

A Música Progressiva no Brasil

A Música Progressiva no Brasil

História:

Muito mais tarde do que na Inglaterra ou na Itália (por exemplo), exatamente porque a influência veio desses países, A cena Prog brasileira demorou um pouco para chegar em terras Tupiniquins em um tempo onde a informação, literalmente, vinha de barco! Além disso, a influência que as bandas brasileiras tinham no início dos anos 70 (assim como em muitos outros países) era completamente diferente de seus pares Europeus. O Prog Brasileiro vem, na maiorias das vezes, pintado com cores acústicas e muitas vezes com uma influência enorme da Música Brasileira mais tradicional e regional. As primeiras bandas brasileiras do gênero começaram a gravar em torno de 1971 e o pico do gênero no país ocorreu entre 1974 e 1975 quando várias bandas lançaram seus melhores discos.

A maioria dos artistas Prog do país, em semelhança com o Prog italiano, não conseguiu carreiras longas e de sucesso, esse reconhecimento geralmente veio décadas depois com a ajuda da internet. Muitas vezes, as bandas lançaram um ou dois discos e se dissolveram logo depois, geralmente por desentendimentos com as suas gravadoras. Os anos 70 foram sem dúvida o ápice do gênero no país com diversos lançamentos. Ao longo dos anos 80 poucos álbuns de boa qualidade podem ser encontrados, na verdade, no geral, poucos foram os lançamentos Progressivos nessa época. O tão popular estilo europeu chamado de Neo-Prog não pegou por aqui. Os anos 80 foram mesmo completamente tomadas pelo Rock Popular que se casou chamar de "BRock". Somente em meados da década de 90, as bandas começaram a florescer novamente no país. Essas bandas foram especialmente influenciadas pelo retorno do PINK FLOYD em 1994 e pelo Prog setentista com seus ícones mais conhecidos, GENESIS, YES, ELP, etc.

As bandas:

De 1973 à 1977, foram cinco anos de uma intensa produção de Música Progressiva no Brasil, com SOM IMAGINÁRIO, SOM NOSSO DE CADA DIA, os já veteranos no Rock brasileiro - MUTANTES, MOTO PERPÉTUO, A BARCA DO SOL, O TERÇO, CASA DAS MÁQUINAS, TERRENO BALDIO, BIXO DA SEDA, RECORDANDO O VALE DAS MAÇÃS e muitos outros. Apesar de muita dessas bandas terem produzido pouco (muitas delas não passavam de três discos) o legado e a qualidade musical que tais bandas apresentaram em sua época são referenciados até hoje, e houve um tempo em que o nível era tão alto que pode-se dizer que o Rock Progressivo feito em terras brasileiras em nada devia ao feito lá fora.

Discos que merecem destaque:

Nesta parte vou focar em alguns discos, que seguindo um certo consenso de fãs, críticos e matérias sobre o tema pesquisadas em vários sites, sintetizam o que de melhor aconteceu desde os anos 70 no gênero. 

Banda: MÓDULO 1000
Disco: Não Fale Com Paredes
Ano: 1972
Duração:  31:34
Gravadora: Top Tape

O MÓDULO 1000 foi uma banda formada em 1969 no Rio de Janeiro, e "Não Fale com as Paredes" foi o primeiro disco de Heavy Psych lançado no Brasil e a influência do Rock Progressivo pode ser sentida em diversos momentos. Embora o álbum ainda estivesse embebido em cores Psicodélicas, eles foram muito além da simples "loucura de drogado" do Rock Psicodélico tradicional.

O álbum foi lançado pela gravadora Top Tape (mais conhecida por distribuir filmes) e diversas vezes aparece em listas de colecionadores Hardcore porque é um ítem muito raro. Na época, o disco não foi bem recebido por público e crítica, que simplesmente não entendia o que a banda estava fazendo naquele momento, pois estavam anos luz de tudo o que acontecia no Rock Brasileiro daquele início dos anos 70 e o simples fato da banda ter gravado o disco já é um milagre por si só.

O MÓDULO 1000 teve uma curta existência e, ainda em 1972, mudou o nome para LOVE MACHINE e lançando um single (desta vez em inglês),  e se dissolvendo logo depois disso.

Faixas:
01. Turpe Est Sine Crine Caput (6:13)
02. Não Fale Com Paredes (3:23)
03. Espelho (2:45)
04. Lem - Ed - Êcalg (1:15)
05. Olho Por Olho, Dente Por Dente (4:52)
06. Metrô Mental (6:16)
07. Teclados (1:24)
08. Salve-se Quem Puder (3:51)
9. Animália (1:45)

Músicos:
- Daniel Cardona Romani: Guitarra, violino e vocais
- Luiz Paulo Simas: Órgão, piano e vocais
- Eduardo Leal: Baixo
- Candido Faria: Bateria

Banda: SOM IMAGINÁRIO
Disco: Matança de Porco
Ano: 1973
Duração: 36m19s
  Gravadora: EMI-Odeon
Diretor de Produção: Milton Miranda
Diretor Musical: Maestro Gaya

O SOM IMAGINÁRIO foi criada em 1970, para acompanhar o cantor Milton Nascimento no espetáculo “Milton Nascimento e o Som Imaginário”, mas acabou ganhando vida própria e lançando três álbuns de estúdio.

Os dois primeiros trabalhos lançados pelo conjunto, "Som Imaginário" (1970) e "Som Imaginário" (1971), possuíam sonoridade predominantemente psicodélica, e fizeram parte das primeiras formações músicos como Zé Rodrix (órgão, flauta e vocal), Tavito (violão e vocal) e Naná Vasconcelos (percussão). O terceiro e derradeiro trabalho do grupo, “A Matança do Porco” trilha um caminho mais refinado que seus antecessores e aposta em canções com fortes inspirações na música Fusion e no Rock Progressivo. Além disso, influências de estilos como Bossa Nova e samba se fazem presentes e conferem às canções uma sonoridade bastante peculiar. A formação em "Matança..." era Wagner Tiso (piano e órgão), Luiz Alves (contrabaixo), Robertinho Silva (bateria) e Fredera (guitarra), todos músicos da primeira linha da Música Popular Brasileira, com vasta experiência em estúdio e palco.

Ao todo são nove composições, com destaque para a longa faixa-título, que mistura a sutileza do piano de Tiso com os solos rascantes de Fredera e vocalizes brilhantemente executados por Milton Nascimento. Outro ponto alto do disco é a bateria inventiva de Robertinho Silva, que confere personalidade e suingue para as canções predominantemente orquestrais de Tiso. Trata-se de um trabalho original, composto e executado com maestria. Certamente um dos álbuns brasileiros mais interessantes do gênero.

Faixas:
01. Armina (5:44)
02. A 3 (3:09)
03. Armina (Vinheta 1) (0:45)
04. A Nº 2 (6:35)
05. A Matança do Porco (11:01)
06. Armina (Vinheta 2) (0:34)
07. Bolero (3:08)
08. Mar Azul (3:43)
09. Armina (Vinheta 3) (0:46)
 
Músicos:
- Wagner Tiso: piano, electric piano, organ, composer, arranger
- Luíz Alves:  baixo
- Robertinho Silva: bateria e percussão
- Fredera: guitarra
- Tavito: guitarras
- Chiquito Braga: guitarra
- Chico Batera: percussão
- Danilo Caymmi: flauta
+
- Orquestra Odeon
    - Arthur Verocai: condutor
    - Lindolpho Gaya: condutor
- Milton Nascimento: vocailizações
- Golden Boys: backing vocals
 
Banda: A BOLHA
Disco: Um passo à Frente
Ano: 1973
Duração: 41:14
Gravadora: Continental


A BOLHA foi criada em 1966 como THE BUBBLES, e tocavam covers de canções de Rock internacional, muito em voga na época. Em 1970, após acompanhar as apresentações do Festival da Ilha de Wight, decidem reformular a banda, mudando seu nome para A BOLHA. Em 1971 lançaram o compacto com as faixas, "Sem Nada"/"18:30 Parte I"/"Os Hemadecons Cantavam Em Côro Chóóóóóó - Parte II". A gravação de seu primeiro lançamento em LP foi viabilizada após a banda vencer, em 1971, o prêmio de melhor banda no Festival Internacional da Canção (FIC). O álbum "Um Passo à frente" (com produção artística de Fabian Ross e direção de produção de Ramalho Neto), trazia um Rock básico, com algumas faixas numa linha bem Progressiva. No disco há a participação do falecido Luiz Eça do TAMBA TRIO executando um solo de piano. O álbum foi reeditado em CD pela Progressive Rock, com encarte em inglês contando toda a história da banda, no entanto, é considerado "pirata" pelo membros da banda, que não foram pagos por ele e pretendiam processar a gravadora. Em 1975, algum tempo após o lançamento do álbum, Renato Ladeira deixou a banda para integrar o BIXO DA SEDA, e participaria do álbum seguinte da banda apenas como compositor.

Faixas:
01. Um Passo à Frente (9:05)
02. Razão de Existir  (10:00)
03. Bye My Friend  (6:00)
04. Epitáfio (Epitaph)  (2:50)
05. Tempos Constantes  (5:30)
06. A Esfera (4:14)
07. Neste Rock Forever (3:35)

Músicos:
- Pedro Lima: Guitarra acústica, Guitarra solo - Harmônicos e Vocal
- Renato Ladeira: Órgão Hammond, Farfisa,  Guitarra e Vocal
- Arnaldo Brandão: Baixo e Vocal
- Gustavo Schroeter: Bateria e Vocal

Banda: MOTO PERPÉTUO
Disco: Moto Perpétuo
Ano: 1974
Duração: 37:52
Produção: Pena Schmidt

A história do MOTO PERPÉTUO começa quando Rita Lee deixa os MUTANTES e se junta a Lucinha Turnbull no projeto CILIBRINAS DO EDEN.  Recrutam o baixista Gerson Tatini que traz Diógenes Burani (percussão e vocais) que por fim traz mais um músico, o guitarrista Egydio Conde. O projeto não vingou e Rita montou outro grupo, o TUTTI FRUTTI. Em seguida Diógenes conhece Guilherme Arantes em uma peça de teatro chamada "Plug". Os dois mais Rodolfo Grani (que já participava do grupo BANDO com Diógenes) se juntam a Guilherme Mautner por um brevíssimo tempo. Arantes conheceu Claudio Lucci em seguida na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo descobrindo gostos musicais em comum, como Taiguara, CLUBE DA ESQUINA, LE ORME, YES, GENTLE GIANT, PREMIATA FORNERIA MARCONI, etc....

Algum tempo depois, Guilherme Arantes (piano e voz), Cláudio Lucci (violões, violoncelo, violino, vocal), Egydio Conde (guitarra, vocais), Diógenes Burani (percussão e vocal) e Gerson Tatini (baixo, vocais) se tornaram a banda MOTO PERPÉTUO se inspirando numa peça de Paganini (cujo conceito do nome era criar uma banda que gerasse a própria energia continuamente). Com repertório fechado (com a maioria das composições criadas por Guilherme Arantes), entram em contato com Moracy do Val (empresário dos SECOS E MOLHADOS) conseguindo um contrato com a gravadora GEL pelo selo Continental. Assim, em setembro e outubro de 1974 gravam no Estúdio Sonima, em São Paulo, o seu álbum homônimo de estréia, produzido por Pena Schmidt e lançado em 11 de novembro de 1974 com uma apresentação no Teatro Treze de Maio. Alguns meses mais tarde, o grupo acabaria por divergências internas, com Guilherme Arantes querendo se afastar daquela sonoridade Progressiva que ele considerava "elitista". Com uma carreira solo de muito sucesso, Guilherme Arantes  se tornou um dos artistas Pop mais famosos da MPB. 
 
Um breve revival do MOTO PERPÉTUO veio a ocorrer em 1981, quando três ex-membros realizaram um álbum sob o nome de SÃO QUIXOTE com Arantes aparecendo apenas como músico convidado.

A banda apresenta o que pode ser chamar de um Progressivo Pop. Na verdade as duas primeiras músicas podem lembrar uma mistura de YES e BEATLES. O som pode ser totalmente apreciado se não houver uma abordagem exigente, e a necessidade de grande épico e grande som inovador. Trata-se de um Rock para ouvir com calma. Vale conferir!
 
Faixas:
01. Mal o Sol (2:54)
02. Conto Contigo (2:55)
03. Verde Vertente (3:18)
04. Matinal (4:35)
05. Três e Eu (5:18)
06. Não Reclamo da Chuva (2:32)
07. Duas (2:18)
08. Sobe (3:19)
09. Seguir Viagem (1:40)
10. Os Jardins (3:01)
11. Turba (6:02)
 
Músicos:
- Guilherme Arantes: teclados e lider vocal
- Claudio Lucci: Guitarras elétricas e acústicas, cello e vocais
- Egydio Conde: Guitarra elétrica e vocais
- Diogenes Burani: Percussão e vocais
- Gerson Tatini: Baixo e vocais

Banda: A BARCA DO SOL
Disco: A Barca do Sol
Ano: 1974
Duração: 37m 28s
Diretor de Produção:  Egberto Gismonti
Gravadora: Continental

A história da BARCA DO SOL começa quando Nando Carneiro e Muri Costa, que eram colegas de um curso pré-vestibular de arquitetura, em Copacabana, passaram a se encontrar nas tardes após as aulas para estudar. Nos intervalos, tocavam violão e o irmão caçula de Maurício, Marcelo Costa, fazia percussão para os dois. No fim do ano, foram convidados para uma apresentação no auditório das Faculdades Bennett, já com o nome A BARCA DO SOL. No ano seguinte, o compositor e multi-instrumentista Egberto Gismonti, que era amigo da família de Nando, sendo parceiro de seu irmão, Geraldo Carneiro, consegue bolsas de estudo para os rapazes no VII Festival e Curso de Música de Curitiba, atualmente, Oficina de Música de Curitiba. Em Curitiba, passam todo mês de janeiro tendo aulas com, entre outros professores, o cantor e compositor Dori Caymmi que, ao ouvir o trio tocando, apresenta para eles o violonista Beto Rezende, que entrou no grupo ajudando na percussão, o violinista Jaques Morelenbaum, o flautista Marcelo Bernardes e o baixista Marcos Stul. Com essa formação, voltam para o Rio de Janeiro e passam a ensaiar, além de realizarem apresentações, bem como a acompanhar, como banda de apoio, alguns artistas, como o cantor Piry Reis. A banda foi convidada a gravar uma fita demo para a Continental, da gravadora GEL, conseguindo um contrato de gravação.

Seu primeiro álbum, "A Barca do Sol", foi lançado em 1974, produzido por Egberto Gismonti (a convite da banda), e também, participando como instrumentista nas faixas "Arremesso" e "Alaska". Nesse álbum, começam parcerias com a chamada Geração Marginal, com diversos poetas do movimento, trabalhando como letristas nas canções, especialmente, Geraldo Carneiro (irmão de Nando), Cacaso, João Carlos Pádua, Afonso Carlos Costa e Daniel Mendes Campos. Antes do lançamento do álbum, em dezembro daquele ano, Marcos Stul sai por não concordar com o espírito de coletividade da banda, e Marcelo Bernardes recebe uma proposta para ingressar no Conservatório Nacional Superior de Música e Dança de Paris. O baixista Alain Pierre e o flautista Ritchie (sim, ele, o do hit "Menina Veneno"), são contratados. A banda faz o lançamento do seu primeiro álbum no Teatro Galeria em dezembro de 1974. Logo no início do ano seguinte, Ritchie também sai da banda para ingressar na banda VÍMANA, e foi substituído por David Ganc. Em 1975, a banda trabalha com Gismonti na trilha sonora do filme "Nem os Bruxos Escapam". Graças ao sucesso de canções como "Lady Jane", "O Brilho da Noite" e "Fantasma da Ópera" do primeiro álbum, garantem a gravação de um segundo álbum de estúdio, "Durante o Verão", lançado em 1976, produzido por Geraldo Carneiro.

Nos primeiros segundos já se percebe um som contagiante, bonito, técnico e ao mesmo tempo soando popular. "A Primeira Batalha" traz a flauta, violão e as castanholas em imenso destaque e um dueto de vozes com Muri e Nando usando uma voz limpa e outra aguda (em alguns momentos, quase falseto). "Brilho da Noite" com um clima mais tenso e veloz, mostra as qualidades dos músicos em seus instrumentos em uma canção que deveria soar incrível ao vivo. A percussão e o violoncelo estão divinos aqui. "Arremesso" é uma linda balada focada no violão e na viola cantada por Muri em que vemos claramente o lado erudito dos integrantes. As "Boas Consciências" cantada por Nando (que tem um timbre que lembra o de Sérgio Dias dos MUTANTES) é mais uma balada desta vez ainda mais singela que a anterior mas tão bela quanto. “Lady Jane” é a principal música do álbum e a mais conhecida deles, tocando por algum tempo nas rádios do país. Ainda destaca-se "Alaska", com uma tonalidade mais introspectiva ali no dedilhado das cordas, um breve sintetizador (cortesia do grande Egberto Gismonti, que também produziu o disco), percussão e flauta para depois acelerar ao final em conjunto com o baixo. "A Barca do Sol" fecha um belo disco que nos deixa uma excelente impressão de uma banda que ficaria eternizada na memória dos Proggers brasileiros. Se não os conhece, não perca o seu tempo e ouça logo este grande álbum.

Faixas:
01. A primeira batalha (3:06)
02. Brilho da noite (4:02)
03. Arremeso (3:41)
04. As boas consciências (4:05)
05. Caminhão (4:27)
06. Lady Jane (2:20)
07. Dragão da bondade (3:02)
08. Alaska (3:33)
09. Fantasma da ópera (2:44)
10. Corsário Satã (4:10)
11. A Barca do Sol (3:13)
 
Músicos: 
- Jaques Morelenbaum: violoncelo, violino, piano e voz
- Nando Carneiro: violão e voz
- Muri Cost: violão
- Marcelo Costa: bateria, percussão
- Beto Rezende: percussão, viola, violão e guitarra
- Marcelo Bernardes: flauta
- Marcos Stull: baixo
- Rui Motta: bateria
- Ritchi: Flauta

Banda: MUTANTES
Disco: Tudo foi feito pelo Sol
Ano: 1974
Duração:  42:31
Gravadora: Som Livre

Após o fim do contrato da banda com a Phillips, OS MUTANTES confirmaram de certa forma o movimento Progressivo que iniciaram no álbum anterior, "Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets".  Depois de uma briga com os demais integrantes, o baixista Liminha foi mais um a abandonar o grupo. Sérgio Dias decidiu manter a banda, mas teve de reformular toda a sua estrutura. No lugar de Arnaldo, Dinho e Liminha entraram respectivamente Túlio Mourão, Rui Motta e Antônio Pedro Medeiros. A nova formação conseguiu um contrato com a Som Livre em 1974, que lançou "Tudo Foi Feito pelo Sol" no mesmo ano.

O trio de canções de abertura, traz muitas influências diversas, do Rock psicodélico norte-americano ao Progressivo britânico. "Deixe Entrar Um Pouco D'Agua No Quintal" é uma boa abertura com muita variedade. Pedro de Medeiros cuida de um forte toque de Fusion com seu baixo. "Pitágoras" é um instrumental incrível. A música tem um sabor sinfônico dependendo do bom moog e piano tocados por Túlio Mourão. Infelizmente, a faixa tem apenas 7 minutos de duração. "Desanuviar" é uma balada atmosférica psicodélica e Sérgio Dias Baptista adiciona alguns sentimentos asiáticos com seu suitar no final. 

As outras músicas também são interessantes de ouvir, porém estão em um clima mais Rock n' Roll. "Eu Só Penso Em Te Ajudar" traz muito piano incluindo um solo, também tem aspectos do Rock contemporâneo, mas logo se move para um território Progressivo.Os vocais são bastante apaixonados. "Cidadão da Terra" tem seu foco nos vocais. Alguns excelentes trabalhos de percussão e órgão, e o piano, bateria e vocais dominam "O Contrario De Nada É Nada". Fechando o disco, "Tudo Foi Feito Pelo Sol" pertence às melhores faixas desse trabalho, com a banda girando melodias muito doces apoiadas por belos vocais, surpreendentemente deslizando para um final groovy de Blues. Essa mesma formação dos MUTANTES gravou ainda o compacto duplo "Cavaleiros Negros", lançado em 1976.

Com o tempo, "Tudo Foi Feito..." seria artigo de colecionador, disputado a peso de ouro por colecionadores europeus e eleito, por boa parte da crítica musical, como um dos melhores discos do Progressivo brasileiro de todos os tempos. Uma excelente produção que pode competir com as produções Progressivas/psicodélicas européias sem nenhuma dificuldade.

Faixas:
01. Deixe Entrar Um Pouco D'Água No Quintal (5:04)
02. Pitágoras (6:55)
03. Desanuviar (8:08)
04. Eu Só Penso Em Te Ajudar (4:55)
05. Cidadão Da Terra (5:51)
06. O Contrário Do Nada É Nada (2:55)
07. Tudo Foi Feito Pelo Sol (8:43)
 
Músicos:
- Sérgio Dias Baptista: Guitarras, cítara, Sopros e líder vocal
- Túlio Mourão: Piano, Hammond, Minimoog e Vocais
- A. Pedro de Medeiros: Baixo e Vocais
- Rui Motta: Bateria, percussão e vocais

Banda: SOM NOSSO DE CADA DIA
Disco: Snegs
Ano: 1974
Duração: 44"25 (versão em CD) e 37"54 (vinil)
Produção: Peninha Schmidt
Selo: Continental/Phonodisc

Muitas vezes chamado de "O Emerson, Lake & Palmer" brasileiro" (devido à formação similar sem guitarra), o SOM NOSSO DE CADA DIA tem o início de sua história com o baixista Pedro Augusto Baldanza  (Rio Grande do Sul, 6 de março de 1953 - São Paulo, 28 de outubro de 2019), mais conhecido como Pedrão. Por volta de 1968, 1969 se muda de Porto Alegre para São Paulo e morando em Ribeirão Pires conheceu Odair Cabeça de Poeta, criando o grupo ENIGMAS e começaram a fazer alguns bailinhos pela região do ABC Paulista, chegando até mesmo a gravar um compacto. Pouco tempo depois conheceram OS NOVOS BAIANOS virando a banda de apoio deles, durante cerca de um ano e meio. Pedro Trabalhou com Walter Franco por volta de 1972 e depois com a banda PERFUME AZUL DO SOL gravando o disco "Nascimento" em 1974. Nessa mesma época conhece Manito (teclados, violino, sopros e vocais, uma lenda no Rock Brasileiro tendo sido membro d’OS INCRÍVEIS), que lhe apresenta Pedrinho Batera (bateria, percussão e vocais). Após um período de reclusão e ensaios, estava formada a banda SOM NOSSO DE CADA DIA. Conseguiram um contrato com a gravadora Continental onde lançaram seu primeiro e clássico álbum "Snegs" (gravado em maio de 1974 nos Estúdios Sonima, em São Paulo), em 1974). Fizeram muitos shows na época do lançamento do disco, entre 1974 e 1975, incluindo a abertura dos shows do Alice Cooper no Brasil. 

Gravado em menos de uma semana, "Snegs" contém verdadeiras pérolas do Progressivo nacional, como “Sinal da Paranóia”, “O Som Nosso de Cada Dia”, “Snegs de Biuffrais”, “Massavilha” (um show de Manito nos teclados, aliás), “A Outra Face”, “Direccion de Aquarius”, sem contar o rockão “Bicho do Mato”. Manito tocou simplesmente quase todos os instrumentos, exceto bateria e baixo. Os sintetizadores, teclados e pianos que pontuam quase todas faixas são dele, além dos violinos, saxes e flautas. Mas Pedrinho também faz um ótimo trabalho compondo a cozinha rítmica e nos vocais do álbum.

O som do grupo, que lançara seu disco pela Continental, chamou a atenção dos responsáveis por trazer Alice Cooper para uma turnê de shows no Brasil. E o SOM NOSSO foi convidado para fazer a abertura para o roqueiro estadunidense em cinco apresentações no Rio de Janeiro e São Paulo. Tocaram para um público estimado em 140 mil pessoas no total e levaram a plateia à loucura. Quando Manito tocava os primeiros acordes de “Massavilha”, a massa roqueira ficava boquiaberta e alucinada com o que via e ouvia. Há quem diga que os shows do SOM NOSSO... foram até melhores que os de Alice. Mas pode ser só lenda…

Naquela época, devido ao sucesso de seus shows, a gravadora queria que a banda abrisse o seu leque sonoro e vendesse mais discos. Em 1975 a Black Music e a Disco Music começavam a se tornar mais e mais populares no Brasil e a Continental estava apostando nesse som. A banda lutou contra essa idéia, mas eles estavam sob contrato e depois de muita discussão e pressão, acabaram cedendo. Ainda em 1975 o grupo estava trabalhando em uma suíte de 20 minutos chamada “Amazônia” e muitas músicas novas (Progressivas) foram tocadas em seus shows na mesma época (como mostra o disco ao vivo "A Procura da Essência", lançado em 2004 com faixas gravadas entre 1975 e 1976). No fim, toda a discussão com a gravadora desgastou o grupo e o material Prog que vinha sendo apresentado ao vivo seria descartado, por essas e por toda a pressão pra ser um sucesso comercial fizeram Manito deixar a banda no final de 1975. "Snegs" e sua genialidade, é considerado um clássico absoluto em se tratando de Prog no Brasil.
 
Abrindo o disco o SOM NOSSO explora muito terreno nos seis minutos de "Sinal da Paranoia". É um Rock pesado alimentado pelo agitado órgão Hammond, guitarras acústicas estridentes e vocais de grupo espirituosos com momentos de falsete mais doce na liderança, antes que a peça não apenas se transforme em um interlúdio espacial, mas direto para um frenético thrash de violino escaldante sobre baixo ruidoso, selvagem bateria ruidosa e muito sintetizador! "Bicho do Mato" é um Pop-Rock contagiante, semelhante ao alemão BIRTH CONTROL, dominado pelo órgão Hammond, que salta junto com um vocal barulhento e um ímpeto de bater os pés com um final espacial semelhante ao de ELOY. "O som nosso de cada dia" é imprevisível e dispara em várias direções ao mesmo tempo, oferecendo tudo, desde um teclado bombástico delirante, passagens mais suaves e sonhadoras e sax flutuante tratado nos minutos finais.

A adorável e profundamente onírica "Snegs de Biufrais" abre o segundo lado com guitarras vibrantes, flauta suave e vocais de grupo delicados, mas "Massavilha" aumenta o Prog para onze com uma introdução estendida de explosões borbulhantes de Moog e espirais de sintetizador em cascata ao longo das linhas do primeiro disco solo de Rick Wakeman "The Six Wives of Henry VIII" antes de se estabelecer em uma melodia mais romântica com harmonias suaves. A melancólica e misteriosa "Direccion de Aquarius" troca os enérgicos momentos instrumentais por ambiciosas harmonias de várias partes e guitarras elétricas sombrias que retêm um tom mais sombrio e inquietação geral. "A outra face" fecha o disco e funde longos ataques de Jazz suave salpicado de Hammond passeando ala ATOMIC ROOSTER, solos de guitarra reflexivos de Blues à deriva e sax ondulante.

Em algumas partes a execução é mais emocionante e memorável, mas "Snegs" tem uma resistência melódica sem ser obviamente direcionada ao rádio, e é sobrecarregada com intermináveis ​​sons espaciais. cor do teclado, tornando-o uma pequena obscuridade atraente, mas negligenciada, com tanto a oferecer de uma banda muito boa. Definitivamente para aqueles fãs de música Progressiva que procuram preencher sua coleção com trabalhos mais raros e subestimados que muitas vezes passam despercebidos, e a recente reedição da Moshi Moshi Produtora deste ano significa que o álbum nunca soou melhor!
 
O Site Consultoria do Rock publicou uma entrevista com Pedro Baldanza aqui.
 
Faixas:
01. Sinal da Paranoia (Cimara-Pedro Baldanza)
02. Bicho do Mato (Gastão Lamounier)
03. O Som Nosso de Cada Dia (Paulinho-Pedro Baldanza)
04. Snegs de Biuffrais (Paulinho-Pedrinho-Pedro Baldanza)
05. Massavilha (Paulinho-Pedro Baldanza)
06. Direccion de Aquarius (Paulinho-Pedro Baldanza)
07. A Outra Face (Paulinho-Pedro Baldanza)
08. O Guarani (Carlos Gomes) *
* Faixa bônus somente na versão em CD

Músicos:
- Manito (teclados, saxofone e flauta)
- Pedro Baldanza, o "Pedrão" (guitarra e baixo)
- Pedrinho Batera (bateria e vocais)
+
Coro: Marcinha, Cynara, Ivone, Tigressa

Banda: O TERÇO
Disco: Criaturas das Noite
Ano: 1975
Duração: 37:12
Gravadora: Copacabana/Underground

O TERÇO começou sua história tocando Rock puro e Rock psicodélico, introduzindo elementos do Rock Progressivo já no álbum seguinte. "Criaturas da Noite" é o terceiro trabalho do TERÇO que traz alterações em sua formação,  com o tecladista Flávio Venturini se juntando à Sérgio Hinds, Sérgio Magrão e Luiz Moreno, e assim, O TERÇO (agora um quarteto), contando com todos esses quatro músicos talentosos, diga-se de passagem, produziu seu primeiro álbum clássico, um grande sucesso no Brasil. 

Há uma ótima sensação leve e despreocupada das faixas e da forma como algumas incorporam estilos da música rural e popular brasileira (até mesmo uma batida de samba), Rock direto e Rock Progressivo. Abrindo o disco, "Hey Amigo" é um Rock simples do início dos anos 1970, ótima abertura! "Queimada" tem um belo e alegre violão. Uma melodia vibrante, com influências rurais brasileiras e vocais alegres. Super agradável! "Pano De Fundo" traz um som mais de Rock Progressivo do que as duas faixas anteriores, esta música agradável acompanha bem o Rock. Perto do final muda de estilo e lembra um pouco a música de SANTANA. "Ponto Final" é outro número que soa como Rock Progressivo. Além das vocalizações, é um instrumental descontraído e muito agradável também, com alguns belos teclados eletrônicos e piano. Ótima melodia. "Volte Na Próxima Semana" é outro Rock simples nos moldes de "Hey Amigo", embora soe mais anos 1960 do que 1970. É meio que um bate-cabeça. Uma música OK, mas nenhuma obra-prima. "Criaturas da Noite", é outro grande sucesso da banda. Esta faixa-título começa bem com um piano calmo e vocais agudos. Tem uma melodia bastante Pop, com cordas de apoio. Uma música bastante simples, e fica mais complexa e com um som clássico cerca de dois terços do caminho. Uma linda peça clássica de Prog sinfônico!!!

Outra faixa com violão e com uma melodia agradável é "Jogo das Pedras", uma peça animada que lembra a música rural brasileira. Possui uma sensação adorável e ensolarada e uma melodia cativante. "1974" vem com um maravilhoso piano começando esta obra-prima de Rock Progressivo de 12 minutos. Existem algumas vocalizações mas, para todos os efeitos, é uma peça instrumental. Possui uma sensação leve e alegre com muita melodia. Há até uma breve batida de samba em um ponto, que funciona perfeitamente com os teclados e a guitarra e não parece nada fora do lugar. Um ponto alto do gênero, que deveria ser ouvido por todos os amantes do Rock Progressivo.

O LP foi relançado em LP com o título "O Terço" ao invés de "Criaturas da Noite" e com uma capa diferente: uma foto da banda no palco, com a frente mostrando a bateria de Luiz Moreno e o baixista Sérgio Magrão

Faixas:
01. Hey amigo (3:22)
02. Queimada (3:04)
03. Pano de fundo (3:44)
04. Ponto final (4:38)
05. Volte na proxima semana (2:51)
06. Criaturas da noite (3:41)
07. Jogo das pedras (3:25)
08. 1974 (12:27)

Músicos:
- Sérgio Hinds: Guitarras, Viola brasileira e vocais.
- Sérgio Magrão: Baixo e vocais
- Luiz Moreno: Bateria e vocais
- Flávio Venturini: Piano, Órgão, sintetizador, Guitarras de 12 cordas e vocais

Convidados:
- Cezar De Mercês: Percussão (3) e vocais (4) 
- Marisa Fossa: vocais (4)
- Rogerio Duprat: orquestrações

Banda: CASA DAS MÁQUINAS
Disco: Lar de Maravilhas
Ano: 1975
Duração: 43:33
Gravadora: Som Livre
Produção: Netinho

CASA DAS MÁQUINAS é uma banda de Art-Rock brasileira que gravou 4 álbums em sua carreira, sendo que 3 deles, nos anos 70, entre 1974 e 1976. Seu primeiro e terceiro álbums apresentam canções de Hard Rock, e bem no meio desses dois em 1975 foi lançado "Lar de Maravilhas", seu trabalho mais interessante e dinâmico que desde então passou a ser reconhecido como um clássico do Rock Progressivo do Brasil. Ainda pode se encontrar em "Lar de Maravilhas", o Hard-Rock característico da banda, só que agora carregado com teclados espaciais, arranjos sinfônicos, intrincadas mudanças de direção e grande variedade, tudo impulsionado por fortes melodias cantadas em português com vocais confiantes, e instrumentação especializada.

A faixa de abertura "Vou Morar No Ar" troca versos levantados pelo violão por harmonias crescentes de grupo e guitarras elétricas divertidas sobre sintetizadores espaciais. A faixa-título "Lar De Maravilhas" tem muitos violões dedilhados apaixonados e doces harmonias de grupo que flutuam como uma brisa suave, entre guitarras elétricas lentas e sombrias e um vocal distorcido de outro mundo. "Liberdade Espacial" é um Rock viciante e fumegante com um baixo forte e uma ótima pausa de sintetizador no meio, há traços de YES em "Astralização" com sua eletrônica rolante, baixo flutuante, guitarras chorosas e órgão Hammond sinfônico. As vozes ecoando letárgicas e harmonias de refrão arrulhadas de "Cilindro Cônico" são explodidas com lamentos ardentes de guitarra elétrica e bateria agitada.

Com suas longas passagens instrumentais, "Vale Verde" é o grande momento puro Prog do disco. Um tema Moog giratório, Hammond semelhante a ELP, eventualmente, harmonias suaves em falsete deslizam pela peça, e o dramático final sinfônico é lendário. A bonita "Raios de Lua" é uma balada acústica onírica e romântica que abraça calorosamente, mas "Epidemia de Rock" nada mais é do que um Rock 'n Roll descartável (se ainda bem executado) que teria ficado mais adequado na estréia ou o álbum seguinte "Casa de Rock". A banda fecha com a faixa dupla "O Sol/Reflexo Ativo" que abre com uma longa narração feita por uma voz psicodélica flutuante, antes surgindo em um clímax sinfônico triunfante de Hammond e Mini Moog.

A mistura de Hard e Acid Rock, instrumentação espacial e inventividade Progressiva com inteligência Pop em "Lar de Maravilhas" prova ser muito viciante, e os vocais e harmonias suntuosas apenas elevam este maravilhoso álbum ainda mais alto. Vale a pena adquirir se você já tem muitas "grandes" bandas e álbuns em sua coleção e está procurando expandi-la com lançamentos mais obscuros, mas igualmente valiosos, então você não pode errar com CASA DAS MÁQUINAS, uma jóia do Prog brasileiro.
 
Faixas:
01. Vou Morar no Ar (3:36)
02. Lar de Maravilhas (6:15)
03. Liberdade Espacial (2:20)
04. Astralização (5:30)
05. Cilindro Cônico (5:09)
06. Vale Verde (6:55)
07. Raios de Lua (3:00)
08. Epidemia de Rock (3:00)
09. O Sol/Reflexo Ativo (7:56)

Músicos:
- José Aroldo: Guitarras acústicas e elétricas e vocais
- Carlos Piazzoli "Pisca": Guitarra elétrica, acústica, Guitarra de 12 cordas, Baixo, Órgão Yamaha e vocais.
- Mario Testoni "Marinho": Órgão Yamaha e Hammond, Clavinete, Moog,  mellotron, Fender Rhodes e grand piano
- Carlos Geraldo: Baixo, Double bass e vocais
- Luiz Franco Thomaz "Netinho": Bateria, percussão, voz e produção
- Mário Franco Thomaz "Marinho": Bateria, percussão e vocais

Banda: BIXO DA SEDA
Disco: Bixo da Seda
Ano: 1976
Duração: 38:49
Gravadora: GEL

BIXO DA SEDA foi uma banda brasileira  formada em 1967 na Vila do IAPI, um bairro operário de Porto Alegre, pelo vocalista Fughetti Luz, o guitarrista solo Mimi Lessa, o guitarrista base Marcos Lessa, o baixista Wilmar Ignácio Seade Santana, conhecido como Peco ou Pepeco e o baterista Edson Espíndola. Inicialmente, tocavam covers de Rock inglês em clubes localizados em Porto Alegre e no restante do estado. No ano seguinte quando recebem um convite de Carlinhos Hartlieb para defender sua canção "Por Favor, Sucesso" no II Festival Universitário da Música Popular Brasileira, em Porto Alegre, que funcionava como eliminatória para o IV Festival Internacional da Canção, no Rio de Janeiro. A música se tornaria a vencedora do festival e conseguem o direito de participar das eliminatórias do FIC daquele ano no Rio de Janeiro. Eles não conseguem chegar à final, mas acabam conseguindo um contrato com a gravadora carioca, Equipe. Em 1969, ainda como Liverpool, eles gravam o seu primeiro álbum, "Por Favor, Sucesso", que foi lançado no mesmo ano. 

Após muitas mudanças no decorrer dos anos, a banda se muda para o Rio de Janeiro em 1975 e começa a realizar diversos shows naquela cidade, em São Paulo e em Belo Horizonte. Na mudança de cidade, Peco, Zé Vicente Brizola e Cláudio Vera Cruz saem da banda, entrando o tecladista Renato Ladeira, ex-integrante da banda carioca A BOLHA, e, também, Marcos Lessa passa a tocar baixo. Com essa formação, gravam esse seu segundo álbum, "Bixo da Seda", lançado em 1976 pela gravadora GEL, através do selo Continental. O LP acaba por não mostrar o que era realmente a banda ao vivo. Toda energia que marcavam no palco, não foi transmitida para o estúdio. Mesmo assim, contém grandes obras como "Um Abraço em Brian Jones", em homenagem ao ex-STONES, as lindas baladas "Vênus" e "Já Brilhou", e seu hino "Bixo da Seda", com os famosos versos: "Bixo, dá a seda, me deixa enrolar". A grande qualidade técnica dos músicos, as harmonias um tanto rebuscadas para uma banda de Rock, e seus compassos totalmente fora dos padrões, características marcantes da banda, podem ser ouvidas em todas as músicas.

Faixas:
1. Vênus (4:16)
2. Já Brilhou (5:09)
3. É como Teria que Ser (3:58)
4. Carrocel (3:35)
5. Bixo da Seda (3:19)
6. Sete de Ouro (4:52)
7. Gigante (6:01)
8. Um Abraço em Brian Jones (2:35)
9. Trem (5:05)

Músicos:
- Fughetti Luz: vocais, flauta e percussão
- Mimi Lessa: guitarra elétrica, viola, vocais
- Renato Ladeira: órgão, guitarra, gaita, vocais
- Marcos Lessa: baixo, viola, gaita, vocais
- Edson Espindola: bateria, percussão, vocais

Banda: SAECULA SAECULORUM
Disco: Saecula Saeculorum
Ano: 1976
Duração: 28:47
Continental: 

SAECULA SAECULORUM é uma lendária banda brasileira de Rock Progressivo que foi criada em 1974, no estado do Minas Gerais. A banda era formada por Giacomo Lombardi (piano e voz), José Audisio (guitarras), Bob Walter (bateria), Edson Plá Vieguas (baixo), Juninho (bateria) e especialmente o renomado violinista Marcus Viana, que depois iria formar o excelente SAGRADO CORAÇÃO DA TERRA.

Este álbum autointitulado foi gravado em 1976 e se trata de um trabalho que segue a a linhagem do Rock sinfônico com tendências clássicas muito fortes. Os maiores destaques são o violino de Marcus Viana e o "great piano" executado com bastante virtuosismo.  As letras são em português, mas devido a gravação não estar muito nítida desfavorece uma compreensão maior das letras. O som é de muita personalidade onde é fácil perceber a competência de todos os músicos além é claro das músicas serem muito bem feitas e de muita inspiração. 

Os primeiros minutos começam como se fosse um álbum de MAHAVISHNU ORCHESTRA. Os violinos são bastante Jazzistas, mas a música entra em um território mais familiar depois de um tempo. O resto do álbum é muito bonito, inspirado por bandas como YES e AREA. É pesadamente influenciado pelo compositor clássico Handel, além de bandas como PFM da cena italiana. O som é muito aberto. Os principais instrumentos são o violino, piano, teclados, existem algumas guitarras - segundo o próprio Marcus: "a guitarra era mais forte ao vivo...no disco está por trás...mas é parte fundamental da criação sonora". A boa voz de Marcus Viana é um detalhe a parte, romântica, tranquila e muito bem empostada.

A qualidade da banda é muito boa. SAECULA SAECULORUM tinha seu próprio estilo. O álbum é curto mas dá conta do recado e certamente com a continuação da banda, muita coisa boa viria a ser realizada. A banda encerrou suas atividades em 1977 mas ainda chegou a se apresentar num tributo ao baterista Mário Castelo porém com uma formação diferente, mantendo apenas Marcus Viana e Giacomo Lombardi.

Faixas:
01. Saecula Saecularum
02. Acqua Vitae
03. Eu Quero Ver O Sol
04. Constelação De Acquarius
05. Rádio No Peito
 
Músicos:
- José Audísio (Pardal) - guitarra- Giacomo Lombardi - piano
- Marcus Viana - violino
- Edson Plá Viegas - baixo
- Juninho - baixo
- Bob Walter - bateria

Banda: TERRENO BALDIO
Disco: Além das Lendas Brasileiras
Ano: 1977
Duração: 33:24
Gravadora: Continental

Chamado de "GENTLE GIANT brasileiro" o TERRENO BALDIO usou de diversos elementos musicais brasileiros em sua música, dando uma brasilidade que a diferenciou de outros grupos da época. Isso fica claro nesse segundo disco do grupo.

Formado em São Paulo, por João Carlos Kurk (flauta, vocal), Mozart de Mello (guitarra), Ronaldo Lazzarini (teclados) e Ascenção (contrabaixo) e (bateria). Lançaram um LP independente autointitulado, em 1975, com tiragem de mil cópias; as fitas matrizes acabariam sumindo, e com o tempo surgiriam edições piratas em CD na Europa e Japão feitas a partir do vinil.

Em 1977 o grupo foi contratado pela Continental, que exigiu uma gravação inspirada no folclore brasileiro; então o grupo gravou "Além das Lendas Brasileiras", com novo baterista, Ayres Braga. Em 1993 o grupo (desta vez formado por Mozart, Kurk e Lazzarini) se reuniu para, a exemplo do RECORDANDO O VALE DAS MAÇÃS, regravar o primeiro LP para o selo Progressive Rock Worldwide com as letras em inglês porém usando a capa original!

A música do TERRENO BALDIO sempre teve uma "pegada Progressiva", que era fora do comum aos padrões da época, característica por ser bem trabalhada harmônica e musicalmente, ritmicamente, sendo essa a marca da pegada Prog.

A primeira faixa, "Caipora" começa logo rasgando com um som da floresta. Flauta doce acompanhada de algumas cordas, ou guitarra ou violão. Vem a bateria, caixa, muito rápida, tremendo, trepidando, com um tecladinho de fundo, frenético também. Vem a voz, cantando a Caipora, fazendo louvação à entidade ardilosa. A Caipora corre mais que corre, protegendo sua flora, e corre a galope, a galope de anta, desviando dos galhos, distribuindo salves para os elementais e bichos da floresta. "Saci-Pererê" traz a coragem vocal de João Carlos Kurk. Essa é uma das músicas mais frenéticas e instigantes que você já ouviu. A bateria ainda é mais frenética que "Caipora", o teclado já começa rasgando na linha Progressivona: fazendo o som ascender numa introdução PANCADA. Se a Caipora vai a galope, o Saci vai de redemoinho.

Pra quem já ouviu a versão de "Passaredo" de Chico Buarque e Francis Hime, esqueça. Aqui a música ganha uns graus a mais de gravidade que faz dela uma outra coisa. Se a música de Chico e Hime é dos céus, dos vôos altos, a do TERRENO BALDIO é das copas das árvores no crepúsculo das 17h, que é quando os pássaros fazem suas assembleias e narram o que se passou durante o dia, que é quando narram os perigos que enfrentaram, os encontros com os inimigos, as fugas e desvios no chão e no ar, as caças bem e mal sucedidas, as indigestões e as inevitáveis mortes. "Primavera" segue Passaredo. Ritmo mais calmo, pra frente, uma inspiração do ar das flores. É como se o som se instalasse justamente na contração do ar, ao contrário de "Caipora" e "Saci-Pererê", marcada por exalações. "Lobisomem" traz um clima soturno que faz a gente sentir a noite de luar, faz a gente sentir a tensão do ar úmido da noite, porque os predadores enxergam até melhor na lua cheia. A umidade é feita pelo teclado de Lazzarini, e a noite densa cobre a floresta graças à guitarra de Mozart de Mello e ao baixo de Ayres Braga. A velocidade do disco é incrível, as notas são coladas umas nas outras, sem deixar que o silêncio reverbere para além das lendas. A bateria, a cargo de Joaquim, é o que dá a quebradeira infinita. As bases são secundárias, e não primárias. Mesmo o que não pode ser considerado Progressivo vai por aí. 

A sexta faixa, "Curupira", mantém a tensão da noite, mas é uma noite de lua crescente. Vem um som emprestado das estrelas, que é o teclado que dá. É incrível como aqui eles conseguiram aliar o som espacial ao som das florestas, como BACAMARTE fez tão bem na faixa "UFO". "As Amazonas" é a música mais quebrada do disco. Empresta da imaginada guerra das florestas a polirritmia das pedras amassando as caixas cranianas, das lanças rasgando caixas torácicas, das flechas zunindo e cortando o peso do ar. "Iara" é a borda do rio na maré baixa e calma. É a mata ciliar, com suas sementes de vida, com sua lenta absorção da água que está logo ali. Melodia calma, órgão de igreja e flauta doce inspirada pelo céu rosa-púrpura, na aurora. São frases belíssimas de flauta acompanhadas pelos pratos secos. A letra poderosa é um grande elogio à mais bela das entidades. Bela música. Negrinho do Pastoreio" vem pra fechar o disco. O teclado é que faz, através da repetição de uma frase belíssima, o disco sumir aos poucos. Sem letra, a música, na linha de A BARCA DO SOL e do terceiro disco de SOM IMAGINÁRIO, traz logo no início um choro de viola que poucos souberam fazer.

O disco ganha muito, por ter como tema algumas lendas brasileiras. Dar sonoridade roqueira ao imaginário de quem vive no mato fazendo a aproximação com a cultura urbanóide é muito interessante. É encontrar fora da cidade de asfalto a matéria que pode transformar o universo com mais velocidade. É uma aproximação, uma ligação, uma ponte. Os dois multiversos ganham, porque há penetração, há absorção de um no outro.

Faixas:
01. Caipora (2:38)
02. Saci Pererê (3:09)
03. Passaredo (2:56)
04. Primavera (3:23)
05. Lobisomem (5:19)
06. Curupira (4:59)
07. As Amazonas (3:37)
08. Iara (3:33)
09. Negrinho Do Pastoreio (3:47)
 
Músicos:
- João "Fusa" Kurk: vocais, flauta (1,7,8), percussão (1,4,5,8)
- Mozart Mello: guitarras, vocais (2)
- Roberto Lazzarini: Fender electric piano, Vox (6) & Hammond, clavinete (2,5), piano (3,4,9), ARP Strings synth, percussão (6,8)
- Rodolfo Ayres: baixo, double bass (8)
- Joaquim Correia: bateria e percussão
com:
- Nelson Gerab: violino (1,9)
- Aroldo "Peninha" Sobrinho: efeitos (8)
- Fabio Gasparini: cello (9)
- Claudio Bernardes: double bass (9)
 

Banda: RECORDANDO O VALE DAS MAÇÃS
Disco: As Crianças da Nova Floresta
Ano: 1977
Duração: 35:24
Gravadora:

RECORDANDO O VALE DAS MAÇÃS é um exemplo muito bom do Rock Progressivo sinfônico instrumental brasileiro. A banda foi criada em Santos, no ano de 1973. Além da formação padrão de guitarra / teclado duplo / baixo / bateria, o som inclui violino, flauta e trompa digital. Sua música mistura em muito boas proporções as calmas passagens sinfônicas com um sabor sul-americano, Folk Brasileiro (MPB), algumas reminiscências do Country Norte-Americano, muitas texturas de bom gosto e até alguns brilhos barrocos e renascentistas. Há muito equilibrio entre uma ótima guitarra, muitas flautas, teclados duplos e violão clássico. Aqui é evidente a influência do CAMEL e geralmente do lado sinfônico do Canterbury. Os arranjos são sempre feitos com muito bom gosto, musicalmente envolvidos e consistentemente interessantes.

A faixa mais longa, "As Crianças da Nova Floresta", se aproxima muito de outra banda brasileira contemporânea, o AZYMUTH, mas logo vem um longo solo de flauta até que teclados, violino e outros instrumentos sejam adicionados. Essa música fala sobre sentimento introspectivo, visão infantil. Ao final, a letra é cantada mais ou menos assim: "unam suas mãos e venham conhecer essas crianças porque essas crianças são vocês", e um vocal feminino é adicionado".
 
Faixas:
1. Ranchos, Filhos e Mulher (3:08)
2. Besteira (4:05)
3. Olhar de um Louco (3:53)
4. Raio de Sol (6:08)
5. As Crianças da Nova Floresta (18:10) :
     a. A Luz Da Natureza
     b. A Visão Da Consciência
     c. O Caminho
     d. As Crianças Da Nova Floresta
Bonus tracks on 2002 CD release:
6. Sorriso de Verão (3:00)
7. Flores na Estrada (2:34)

Músicos:
- Fernando Pacheco: guitarras
- Fernando Motta: guitarras
- Eliseu Filho: teclados, vocais
- Luiz Aranha: violino
- Moacyr Amaral Filho: flauta, vocais
- Ronaldo Mesquita: baixo
- Milton Bernardes: bateria, percussão & vocais (1-5)
- Lourenço Gotti : bateria (6,7)
com:
- Eduardo Assad: teclaodos (1-5)
- Cristina Lobão: vocais (4,5)
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Texto compilado por Fabio Costa
 
Fontes de Pesquisa:

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